Fear this queer: Jewelle Gomez


Este mês já está chegando ao fim e setembro já está na nossa porta, acho que talvez o maior sinal de que nada mais faz muito sentido na nossa realidade é fato de agosto ter passado voando. Para encerrar o pequeno especial de autoras lésbicas de histórias de terror (mas que fique claro que não será a última vez que irei falar delas por aqui) pra fechar com chave de ouro hoje falarei de uma autora contemporânea: Jewelle Gomez.


O livro Monster, she wrote de Lisa Kroger (sim, estou citando mais uma vez esse livro aqui) comenta  bem brevemente sobre a vida de Jewelle. É dito que ela nasceu em Boston em 1948 e foi criada pela avó que era descente de nativos americanos e de afro-americanos e que estudou na Universidade de Northwestern onde já começou a se envolver com movimentos de direitos civis. Em 1971 ela se mudou para Nova York onde concluiu o seu mestrado em jornalismo pela Columbia University. Nos anos 80 a sua participação em movimentos de direitos civis fica ainda mais forte, em 1982 Jewelle conduziu as pesquisas e entrevistas do documentário da PBS Before Stonewall (sobre a história da comunidade queer… antes de Stonewall), em 84 participou do conselho de criação da criação da GLAAD (Gay and Lesbian Alliance Against Defamation) e também participou dos conselhos da Astraea Lesbian Foundation, da Open Meadows Foundation e da Human Sexuality Archives of Cornell University. Jewelle também participou de movimentos para a legalização do casamento gay na California (onde se casou em 2008 com a sua companheira) além de ter cooperado com várias revistas feministas e coletâneas de contos e de ensaios.



O ativismo marcou grande parte da vida de Jewelle assim como marcou a sua obra, principalmente o seu livro mais famoso: The Gilda Stories. Misturando terror e ficção-científica o livro conta a história de Gilda, uma vampira negra e lésbica que vive desde o período de escravidão até o distópico ano 2050. Lançado em 1991 o livro é um exemplo clássico de afro-futurismo, gênero que ultimamente anda muito em voga, principalmente por causa do sucesso recente de Pantera Negra e do trabalho de cantoras como Janelle Monáe e Beyoncé, e que tem como principal característica usar a ficção-especulativa para falar de questões relativas a diáspora africana e as populações negras que tem que viver com o trauma da escravidão e com o apagamento do seu passado (este vídeo explica bem melhor as nuances do gênero). O seu livro subverte alguns elementos de narrativas tradicionais sobre vampirismo, Lisa Kroger diz que The Gilda Stories foca em assuntos como “raça, gênero, sexo consensual e na beleza e no terror de uma vida que não acaba” e que no livro os vampiros não existiriam como “predadores isolados, a maioria dos seus vampiros criam comunidades para afastar a solidão e buscam viver a vida nos seus próprios termos por quanto tempo eles quiserem”.


No prefácio à edição de 2016 Jewelle diz que a inspiração para o primeiro capítulo do livro veio de uma experiência que teve em Manhattan ao ser agredida verbalmente por dois homens e, ao revidar, escutou que estava sendo exagerada. O sentimento de impotência e isolamento que essa situação lhe causou a inspirou a contar a história de Gilda, uma mulher que  “ganha o poder supremo sobre a vida e a morte e ainda sim vive em mundo hostil ao seu gênero, cor de pele e a sua sexualidade”. O livro ganhou o Lambda Award de ficção lésbica e foi adaptado para o teatro pela própria Jewele em 1996 com o nome Bones & Ash. Infelizmente ele permanece inédito no Brasil.


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